Seu orçamento e o meio ambiente agradecem.
O entulho de obra é o material mais caro de todos.
Você deve estar pensando: “ficou louco, o entulho não vale nada.“
Você está certo, não na parte que estou louco mas na parte que o entulho não vale nada. Mas isso não torna errado o que eu disse, que foi: “o entulho é o material mais caro de todos.” Não falei do valor e sim do seu custo.
Essa análise equivocada de tratar o entulho pelo seu valor e não pelo seu custo é que gera um grande prejuízo às obras, pois é feita após o insumo ter realmente perdido sua função e seu valor, mas ele não entrou na obra com esse custo.
Vamos entender um pouco melhor todo esse cenário.
O que é o Resíduo da Construção Civil (RCC)
O setor da Construção Civil engloba diversas atividades relacionadas a produção de obras e tanto seus benefícios como impactos são de grandes proporções.
O impacto ambiental possui grande relevância e tem em sua composição a geração de resíduos os chamados Resíduos da Construção Civil (RCC).
O maior foco quando se trata de RCC tem sido sua destinação para local adequado ao descarte ou centrais que o utilizem como insumo para produção de algum outro produto, a conhecida reciclagem.
A correta destinação e tratamento do RCC são de suma importância, mas podem causar um perigoso relaxamento na gestão da obra, do custo total e principalmente para o meio ambiente.
A partir do momento que se admite que o problema do RCC está resolvido porque temos onde jogar ou o que fazer com ele, perde-se o maior potencial para sua correta gestão que é a redução da sua geração.
Como reduzir a geração de entulho
Grande parte do RCC gerado poderia ser evitado através de 3 fatores principais:
- elaboração de projetos executivos detalhados e compatibilizados;
- planejamento de obra;
- logística de canteiro;
além de outros fatores relacionados à gestão da obra que têm impacto direto na geração do RCC.
Mas como assim? Explico e exemplifico.
Compatibilizando o projeto da estrutura com a alvenaria. Pode-se assim evitar aquela quebra do tijolo na última fiada para caber no vão remanescente. Menos resíduo, maior produtividade e menor custo.
Sendo o projeto de detalhamento e paginação dos pisos cerâmicos compatibilizado com o projeto de arquitetura. Podem ser evitados os fechos com baixo reaproveitamento. Menos resíduo, maior produtividade e menor custo.
Um projeto de canteiro adequado ao planejamento e logística da obra, evita desperdício de materiais (quebras e danos em embalagens) e de mão de obra (descarga dificultada e grandes distâncias no transporte interno). Menos desperdício, maior produtividade e menor custo.
Aliando estes e outros exemplos a uma gestão profissional e qualificada da obra, com monitoramento e controle constantes das atividades, evitando desperdícios e restrições de produtividade, obtemos uma menor geração de RCC, maior produtividade e uma gestão mais eficiente dos custos.
Eliminar totalmente o RCC pode até ser muito difícil de alcançar, mas sua significante redução é algo facilmente atingível onde como resultados teremos um menor impacto ambiental e uma significante redução de custos.
Os custos do desperdício
Um estudo desenvolvido pelo ITQC (Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade na Construção Civil), com 16 universidades em mais de 100 canteiros de obras em 12 estados, apurou que 1 m² de construção demanda 1 tonelada de materiais, onde em média 27% deste peso é gasto a mais que o necessário, ou seja, 270 quilos por m² construído viram entulhos.
É como se a cada 3 prédios construídos, um virasse entulho.
Dificilmente alguém consideraria como normal, por exemplo, comprar 3kg de feijão no mercado e ao chegar em casa jogar 1kg na lixeira. Na obra a perda não acontece assim tão diretamente, sendo esse o grande problema.
O desperdício acontece em pequenas quantidades em todas as etapas ao longo de todo processo, resultando em grandes proporções muito difíceis de serem mapeadas e por isso acaba-se tendo a falsa avaliação que o desperdício em obra “é assim mesmo”.
Em obra o desperdício é comumente chamado de entulho, sendo dividido em dois tipos: o entulho que sai e o entulho que fica.
O entulho que sai
O entulho que sai é aquele que vemos nas caçambas coletoras, que dão origem aos Resíduos da Construção Civil. É relativamente fácil de ser medido e ter seu custo aferido. O engano é tratar o conteúdo da caçamba como lixo, sem valor.
Nada do que está ali foi adquirido como lixo e sim como insumo necessário a obra.
Desta forma, por exemplo, além de pagar em média R$ 220,00/m³ de argamassa de revestimento, tem-se o custo adicional de aproximadamente R$ 25,00/m³ para devida coleta e destinação do seu entulho.
Vamos considerar uma perda média (entulho que sai) de 10%, ou seja, uma eficiência de 90% na aplicação do insumo. Para cada 1m³ que for necessário na obra, terá que ser comprado 1,11m³.
Além do custo pela compra de mais material que o necessário, é preciso arcar com a gasto para retirada desse entulho. Assim, a argamassa na verdade custou R$ 246,95/m³ (1,11 x R$ 220,00 + 0,11 x R$ 25,00).
Um custo 12,25% maior que o necessário.
Isso sem contar no custo relativo ao transporte interno, trabalho realizado e limpeza, necessários e geração e coleta do entulho. É assim que o custo da obra estoura qualquer orçamento.
Mas e aqueles resíduos que podem ser reaproveitados, até vendidos, como o aço?
Verdade.
É uma forma de tornar só muito ruim o que é horrível. Visto que comprar algo por R$ 2,30/kg e vender por R$ 0,15/kg não é exatamente um bom negócio e sim uma maneira eficiente de “rasgar dinheiro”.
O entulho que fica
O entulho que fica é tudo aquilo que é gasto além do que seria necessário para desempenhar a mesma função, como por exemplo: espessura de revestimento maior para corrigir prumo e esquadro de paredes; espessura da laje maior que o necessário devido a falta de controle de nivelamento do concreto; maior quantidade de cabos e tubulações por falta de otimização e compatibilização de projetos; etc.
Esse tipo de entulho é muito difícil de ser quantificado porque não aparece na caçamba e não se tem a referência de como seria sem ele. Só é possível ser combatido com a profissionalização das atividades e dos projetos.
O combate mais eficiente a estes desperdícios, reduzindo os custos não previstos e também gerando menor impacto ambiental é a redução da geração do entulho.
Isto é feito com gestão profissional da obra, planejamento e logística de canteiro, projetos eficientes, desenvolvidos e compatibilizados por profissionais habilitados e qualificados, uso de técnicas construtivas e equipamentos adequados à obra e ao local onde está inserida.
Adotando estas medidas, seu bolso e o meio ambiente agradecem.
Agora faz sentido?
Agora percebe como o entulho é o material mais caro da obra?
Além de comprar mais que o necessário, ainda paga para tirar e dar a destinação adequada, e não tirou proveito nenhum dele, só consumiu recursos.
Desta forma, toda vez que você:
- não desenvolve os projetos executivos, está comprando entulho;
- não compatibiliza os projetos, está comprando entulho;
- negligencia as instalações de canteiro, está comprando entulho;
- não fiscaliza a execução dos serviços, está comprando entulho;
- usa mão de obra sem a devida qualificação, está comprando entulho;
acho que já deu pra entender o tanto de entulho que uma obra compra sem a menor necessidade, achando que está economizando quando na verdade está comprando entulho.
A maneira mais eficiente de tratar o entulho (RCC) não é dando a destinação correta, é não gerando, ou ao menos, gerando o menos possível.
A redução deste custo indesejado se dá com a profissionalização através da elaboração e compatibilização de projetos executivos, de processos construtivos otimizados e bem definidos, de uma gestão de obra eficiente e logística de canteiro adequada.
Compartilhe esse post com algum colega que trabalhe em obra e quem sabe ele não te paga um churrasco com a economia que fizer depois que aplicar o que leu aqui (pode me convidar também). Além disso, o meio ambiente agradece.