Artigo Técnico

Curva ABC

Uma ferramenta eficiente

A Curva ABC é uma eficiente ferramenta para reduzir custos e aumentar a produtividade nas obras.

O engenheiro de obra tem como missão diária manter a obra dentro do custo orçado e no cronograma, conforme planejado. Isso já é um trabalho que consome muita atenção pois qualquer falha no plano diário de trabalho, atraso na solicitação de compra ou qualquer outro evento fora do previsto pode levar a desagradáveis consequências no resultado da obra.

Além de ser missão de todo engenheiro buscar otimizar processos, temos constante demanda para reduzir custos e aumentar a produtividade, o famoso “fazer mais com menos”.

E para atender essas duas demandas temos uma poderosa ferramenta, a Curva ABC!

O que é a Curva ABC

A Curva ABC é uma ferramenta de Gestão de Custos, representada por uma tabela ou lista, organizada de modo a destacar os insumos – materiais, mão de obra, equipamentos e serviços – que mais pesam no custo total de uma obra ou de um serviço.

Assim, os elementos mais relevantes da obra aparecem logo nas primeiras linhas, facilitando sua visualização e controle.

A coluna mais importante é a que mostra o custo total dos itens descritos na tabela. Com base nesse critério, os elementos são distribuídos em ordem decrescente (os valores maiores em cima e os menores embaixo).

Com esse tipo de organização é possível visualizar os materiais e serviços mais importantes (em relação ao peso financeiro).

Curva ou Tabela?

Ué, mas como a CURVA é uma TABELA?

Essa é uma dúvida comum, mas fácil de entender.

Os dados são organizados em uma tabela, que apresenta em ordem decrescente os insumos de maior custo para os de menor. Quando os dados desta Tabela são plotados em um gráfico de forma acumulada, surge então a Curva.

Por exemplo, veja uma Curva ABC de Materiais em forma de tabela:

Curva ABC Materiais

Essa Curva ABC apresenta apenas os materiais, onde o de maior peso, correspondendo a 15,32% de todo custo de material, é o Concreto
usinado fck=25MPa.

O segundo item mais relevante é o Aço CA-50 5/8”, que corresponde a 8,58% e acumulando com o concreto um custo total de 23,90% do
material.

O gráfico da Curva ABC é construído da seguinte forma: no Eixo X o número do item da planilha, de forma sequencial (1, 2, 3, 4…); e no Eixo Y o valor percentual acumulado do custo até aquele item.

Assim, para a tabela acima teríamos os seguintes pontos (X,Y) a serem plotados no gráfico: (1, 15.32%), (2, 23.90%), (3, 29.66%), etc..

Note que o percentual acumulado chega a pouco mais e 80% (80,48%) no item Porta corta-fogo P60 90x210xm, ainda na primeira página da tabela, de um total de 4 páginas.

Nesse exemplo, só os 3 primeiros itens consomem quase 30% do custo total de material da obra.

De forma geral, quando esses dados são representados graficamente, temos uma curva com esse perfil:

Curva ABC

Lei de Pareto

Curva ABC tem origem na Lei de Pareto e é disposta em 3 faixas ou classes.

A Classe A da curva é o intervalo de dados que corresponde a 80% do custo total e tem aproximadamente 20% da quantidade de itens.

É chamada de Classe B os dados que correspondem aos próximos 15%, ou seja, junto com a Classe A somam 95% do custo total e têm
aproximadamente 30% da quantidade de itens (somando 50% com a Classe A).

E por final, é chamada de Classe C os dados que correspondem aos próximos 5%, ou seja, junto com as Classes A e B somam 100% do custo total e têm aproximadamente 50% da quantidade de itens, totalizando também 100%.

A quantidade de itens de cada Classe é apenas aproximada e pode variar conforme tipo da obra e dos insumos, por isso a referência mais adequada é através do custo total acumulado.

Como elaborar uma Curva ABC

Agora que já está bem claro o que é a Curva ABC, vamos ver como construir essa tabela que serve de base para o gráfico acumulado.

A tabela apresenta a soma do custo do insumo em todas as atividades que é consumido. Ou seja, se o concreto aparecer em 5 composições diferentes, ou mesmo sendo a mesma composição usada diversas vezes em diferentes atividades, a soma de todos esses valores é levada para tabela.

O mesmo vale para mão de obra e equipamentos por exemplo.

Mas atenção, deve ser exatamente o mesmo insumo e não um tipo geral. Repare na Tabela usada como exemplo que o Aço CA-50 aparece várias vezes, cada uma delas com uma bitola específica.

Uma Curva ABC de mão de obra, deve constar no custo total do pedreiro, a soma de todos os custos relacionados a pedreiro de todas as composições usadas no orçamento.

Então para elaborar a Curva ABC é necessário que o Orçamento Executivo de Produção esteja concluído. Todas as composições, quantidades e preços precisam estar lançados para montagem da Curva ABC.

Desta forma, a Curva ABC é um produto do Orçamento e não elemento constituinte deste, pois precisa do Orçamento Executivo de Produção concluído para que seja elaborada.

Como esta operação exige certo trabalho, para cada insumo somar o custo de todas as suas aparições nas composições do Orçamento, trona-se desafiador realizar manualmente salvo para obras de pequeno porte.

Neste ponto os softwares do Orçamento trazem uma grande ajuda pois geram automaticamente a Curva ABC através de uma operação bem simples, visto que já possui todos os dados e basta apenas agrupar, somar e emitir a tabela final.

Utilidades da Curva ABC

Pronto, agora chegou a hora de fazer valer o primeiro tópico comentado nesse Artigo.

Para que esse trabalho todo de montar a Curva ABC?

Como pode e dever ser usada?

Vamos então as principais utilidades da Curva ABC na gestão das obras:

1. Hierarquia de insumos

Basta ler o topo da tabela para saber quais são os insumos economicamente mais importantes para obra e definir as estratégias mais adequadas de negociação e compra.

Também pode-se obter a Curva ABC para serviços (terceirizados) e usar da mesma forma.

2. Prioridade na negociação

As cotações e negociações devem focar nos insumos ou serviços do topo da tabela (Classe A).

Um desconto pequeno nestes itens pode representar uma economia mais importante do que um desconto grande nos da parte inferior (Classe C).

Os itens de maior peso, demandam mais tempo de negociação e devem ser identificados para constarem de forma correta no calendário de compras e contratações do planejamento da obra.

3. Atribuição de responsabilidade

A compra dos principais insumos e a contratação dos principais serviços (Classe A) devem ter a participação ativa do gerente da obra e as vezes até a nível de diretoria, já que existe um grande impacto no custo total (tanto positivo quanto negativo).

Já a compra e contratação de insumos e serviços que geram menos gastos podem ser delegadas a outras pessoas pois demandam menos responsabilidade e têm baixo impacto no custo total da obra. Mantendo sempre as metas de custo conforme parâmetros do Orçamento.

4. Avaliação de impactos

Quanto mais para cima o item estiver na tabela, maior será o impacto de variações de preços (positivas ou negativas) no orçamento.

No andamento da obra isso é importante para programar compras e contratações em relação a aumentos de preço e negociar condições comerciais mais favoráveis para os itens mais relevantes.

5. Estudo de viabilidade econômica de alternativas construtivas

Podemos usar os custos totais de materiais ou mão de obra para avaliar a viabilidade da aquisição de equipamentos ou substituição de materiais (preservadas as obrigações técnicas e contratuais).

É possível avaliar se vale a pena pagar por uma máquina que gera um aumento da produtividade do pedreiro por exemplo.

Basta comparar o custo da máquina com a redução do custo do pedreiro na Curva ABC.

O mesmo vale para um material com maior custo unitário, mas que possui melhor rendimento.

Tendo os custos totais na Curva ABC, ou por atividades, esta comparação fica facilitada.

6. Análise de Parâmetros de Orçamentação

A Curva ABC é rica em dados e podemos utilizá-los para estabelecer alguns parâmetros da obra, como por exemplo: relação entre os custos de Material x Mão de Obra X Equipamentos; custos totais de concreto, aço, forma ou revestimentos frente a áreas totais ou de aplicação; relação entre custos de profissionais e ajudantes, etc.

Essas informações são importante para permitir a realização de Orçamento Parametrizado em outras obras, tendo como partida o histórico de determinado perfil de obra realizado pela empresa.

7. Definição de valores e modalidades de contratação de serviços

Mesmo que a empresa use em sua maioria serviços terceirizados, é aconselhável que o orçamento seja feito com base em composições para que seja possível obter uma Curva ABC detalhada.

Os dados apontados na Curva ABC vão dar os parâmetros para contratação de serviços terceirizados. Não apenas os valores justos e adequados do serviço, mas se por exemplo vale a pena ou não ser incluso no escopo da contratada o fornecimento de material.

Se forem materiais da Classe C, vale a pena deixar como responsabilidade da contratada para ganho de agilidade e menor custo administrativo na operação (compra e pagamentos).

Já para serviços que demandam materiais da Classe A, estes podem ser adquiridos pela contratante, tanto fora do escopo da contratada ou como faturamento direto e valores apartados do contrato.

Conclusão

Para reduzir os custos podemos usar a Curva ABC para focar nas negociações de maior impacto no custo total, planejar a compra de insumos antes de aumentos de preços, reduzir despesas operacionais no processo de compra e contratação através da atribuição de responsabilidades e delegando as compras menos representativas a funcionários de menor custo (demanda processos bem definidos) e estabelecer estratégias de terceirização de serviços e modalidades de contrato mais vantajosa.

Em relação a produtividade, podemos ter expressivo ganho através do estudo de alternativas de máquinas, equipamentos e sistemas construtivos em comparação aos custos inicialmente indicados na Curva ABC.

A Curva ABC é uma ferramenta de gestão que deve fazer parte do dia a dia do engenheiro de obra.

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